
Maurício Mellone, colunista colaborador do Aplauso Brasil
Maurício Mellone, para o site
Favo do Mellone, parceiro do Aplauso Brasil(aplausobrasil@aplausobrasil.com)
A Cia. Mungunzá de Teatro conta a saga de um garoto que, depois de sofrer violência dentro de casa, parte para a rua e depois viaja para a Espanha, já como a travesti Gabriela
Impossível sair incólume depois de assistir Luis Antonio – Gabriela. A peça é impactante e a sensação geral da pequena plateia de 80 pessoas é a mesma: todos saem como se tivessem levado um soco na boca do estômago. A própria Cia. Mungunzá de Teatro define o espetáculo — em cartaz no Espaço Cênico Ademar Guerra, do Centro Cultural São Paulo — como um documentário cênico, já que se trata da família do diretor, Nelson Baskerville.
Num relado cru e sem subterfúgio, a peça relata a saga do garoto Luis Antonio, nascido em Santos/ SP, em 1953, primogênito de uma família de seis filhos que, com o segundo casamento do pai, ganhou mais três “irmãs”, filhas da madrasta.
Em plena ditadura militar brasileira, o garoto que desde pequeno não escondia sua homossexualidade, era espancado pelo pai, com o intuito de que fosse “curado”.
Obviamente logo ele ganhou a rua e o pulo para a marginalidade foi sua única saída. Com aplicações de silicone, Luis Antonio foi se travestindo e, já como Gabriela, parte para Bilbao/Espanha, onde chega a ser estrela das boates. Viciada em drogas e vítima de Aids, Gabriela morre em 2006, aos 53 anos.
No entanto, não imagine que esse traço linear da sinopse é o que se vê no palco.
Com extrema criatividade, a Cia. Mungunzá relata a vida de Luis Antonio/ Gabriela como um jogo de quebra-cabeça: usando de vídeos (inclusive com cenas ao vivo), telas do artista plástico Thiago Hattner e elementos cênicos pendurados em toda a extensão do espaço cênico, a história é contada num vai e vem eletrizante e, ao mesmo tempo, muito envolvente.
A Cia. Mungunzá de Teatro, criada em São Paulo em 2006 por atores recém-formados, contatou o ator e diretor Nelson Baskerville para que juntos desenvolvessem pesquisa de teatro pós-dramático. O sucesso Por que a criança cozinha na polenta, de 2008, é fruto dessa parceria.
Já com Luis Antonio – Gabriela
essa união está mais madura: o argumento da peça é de Nelson e a atriz Verônica Gentilin é a responsável pela intervenção dramatúrgica. Marcos Felipe, que vive o personagem central, é parceiro do diretor na composição do cenário e iluminação, além de dividir a produção executiva com a atriz Sandra Modesto. Os atores aprenderam a tocar instrumentos para a execução da trilha composta por Gustavo Sarzi.
Dessa forma, o público tem a nítida impressão de que a peça é realmente uma produção grupal, graças à união e envolvimento visceral de toda a equipe no projeto.
Sem qualquer tipo de apelação ou tom melodramático, a triste, violenta e angustiante saga de Leia mais »